Cirurgiã plástica alerta para os riscos da busca incessante por padrões irreais de beleza
Morte precoce de ator canadense aos 22 anos após realizar várias cirurgias plásticas explica a importância do compromisso ético do médico em realizar apenas o que for adequado para o paciente
A morte precoce do ator canadense Saint Von Colucci, aos 22 anos, após realizar a 12ª cirurgia plástica para se parecer com um integrante da banda sul-coreana de K-Pop BTS, reacende a discussão da busca por padrões de beleza irreais. Colucci sofreu complicações durante um procedimento para retirar implantes da mandíbula. O jovem desenvolveu uma infecção com os implantes, teve de ser entubado, mas não resistiu. Colucci teria colocado os implantes para ficar mais parecido com Jimin, um dos cantores do grupo BTS.
A cirurgiã plástica Dra. Patrícia Marques explica que isso tem nome: transtorno dismórfico. O nome difícil refere-se ao distúrbio na percepção da própria aparência, fazendo com que defeitos mínimos e imperceptíveis ganhem destaque desproporcional na frente do espelho. A ampliação do alcance das redes sociais também tem sua parcela de culpa: “A busca pela selfie perfeita e o uso exagerado de filtros para esconder qualquer imperfeição podem revelar um problema”, explica Marques.
No caso do ator, o agente dele, Eric Blake, confirmou a um jornal britânico que Colucci não gostava de sua aparência ocidental e que se sentia discriminado na Coreia do Sul. O ator interpretou Jimin, do BTS, em uma série coreana que ainda não estreou, chamada Pretty Lies.
Segundo a SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica), em estágios considerados leves, intervenções na aparência podem até servir como parte do tratamento ao transtorno, mas é fundamental que o profissional seja especializado e que tenha o compromisso ético de realizar apenas o que for adequado para o paciente. O transtorno dismórfico é um problema mental, mas que se manifesta fisicamente, levando às pessoas a buscarem por cirurgias plásticas, médicos dermatologistas, dentistas e academias.
Dra Patrícia, que é membro da SBCP, destaca que é fundamental estar atento ao comportamento de cada pessoa que vai ao consultório em busca de uma plástica. “Em casos de suspeita, temos que pedir ajuda a um colega psicólogo para diagnosticar e tratar a doença, se for o caso”, diz.
Saint Von Colucci não era o único que queria ficar parecido com Jimin, o influenciador inglês Oli London já fez diversas cirurgias plásticas para isso. “De forma equivocada, é atribuído à cirurgia plástica apenas o intuito de se parecer com alguém ou se adequar aos padrões, mas a cirurgia plástica é, sobretudo, um compromisso com a própria autoestima. Só quem possui um incômodo físico sabe realmente o valor de fazer algo por si que substitua aquela sensação anterior, só que existe um limite saudável e o médico precisa estar atento para identificar isso”, completa.
Sobre a especialista:
Patrícia Marques é graduada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, é membro especialista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e tem especializações em reconstrução de mama e da face no Hospital de la Santa Creu i Sant Pau, em Barcelona, e no Memorial Sloan Kettering Cancer Center, em NY, EUA. Também é especialista em medicina capilar e referência nacional em frontoplastia e redução de testa. CRM-SP 146410.
Com informações da assessoria