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Risco de desmatamento da Amazônia ultrapassa mil campos de futebol por dia em 2024, aponta PrevisIA

Uma área três vezes maior do que a cidade de São Paulo está sob risco alto, muito alto ou médio de desmatamento na Amazônia em 2024. São 4,6 mil km², o que equivaleria à derrubada de mais de mil campos de futebol por dia de floresta. É isso que aponta a plataforma de inteligência artificial PrevisIA, que está com uma assertividade de 70% na estimativa para 2023 e pode ser usada para evitar a destruição. As informações são do Imazon.

Levando em conta também as áreas que a ferramenta apontou estarem sob ameaça de destruição baixa ou muito baixa, a previsão total para 2024 é de 10.190 km² desmatados na Amazônia. Se isso se concretizar, equivalerá a quase sete cidades de São Paulo ou 3 mil campos de futebol por dia.

A previsão da ferramenta leva em conta o calendário de desmatamento, que por causa do período de chuvas na Amazônia vai de agosto de um ano até julho do ano seguinte, assim como a taxa anual do governo, o Prodes. Apesar da ferramenta ter estimado uma redução na devastação em relação ao previsto para o calendário de 2023, o de 2024 ainda deve apresentar grandes desafios para as políticas de combate à derrubada na Amazônia Legal em municípios e áreas protegidas criticamente ameaçadas. 

“As reduções no desmatamento que estamos observando nos monitoramentos mensais são muito positivas e mostram os primeiros resultados da reestruturação das políticas ambientais, principalmente em órgãos importantes para a proteção da Amazônia como o Ibama, o ICMBio e a Funai. No entanto, elas precisam ser ainda maiores para que a derrubada da floresta volte ao patamar de 2012, quando tivemos menos de 5 mil km² destruídos, e possa chegar ao prometido e necessário desmatamento zero em 2030”, afirma Carlos Souza Jr., pesquisador do Imazon e coordenador técnico da PrevisIA. 

Conforme o cientista, essa intensificação das ações de proteção à floresta é necessária principalmente devido ao ritmo de desmatamento seguir em grandes áreas amazônicas e contar com fatores agravantes como as queimadas e as secas extremas. “Com isso, florestas que não seriam desmatadas podem virar cinzas”, alerta.

A notícia positiva, porém, é que ainda é possível evitar 94% do desmatamento estimado para o calendário do próximo ano. Isso porque em seu primeiro mês, agosto deste ano, o monitoramento do Imazon detectou apenas 568 km² de florestas devastadas. “Nós queremos errar essa previsão para 2024, porque criamos a PrevisIA justamente para que ela identifique as áreas sob maior risco e ações sejam tomadas para protegê-las, as mantendo em pé”, acrescenta o pesquisador.

Um exemplo disso, segundo ele, é a Terra Indígena Apyterewa, cuja PrevisIA indicou estar sob maior risco de derrubada nas estimativas para 2021, 2022 e 2023. Previsão que se concretizou em todos os calendários. Porém, no mês passado, começou uma grande operação de retirada dos invasores do território, o que deverá impactar na redução do desmatamento para o calendário de 2024. “Ações como essa são essenciais para proteger as áreas mais pressionadas da Amazônia, que estão sendo alvo de crimes como grilagem, exploração madeireira não autorizada e garimpo ilegal. Além disso, é possível usar a PrevisIA para avaliar o grau de impacto dessas operações e estimar o quanto de floresta, biodiversidade, carbono e outros serviços ambientais foram poupados ao evitar o desmatamento”, comenta Carlos.

Pará, Amazonas e Mato Grosso concentram 72% do território sob risco

Os três maiores estados do país também são os que possuem as maiores áreas sob risco de desmatamento na Amazônia para 2024. Segundo a PrevisIA, Pará, Amazonas e Mato Grosso somam 72% da área ameaçada, sendo 34% apenas do primeiro estado.

Dos 10 municípios com os maiores territórios sob risco, metade está em solo paraense. A maioria fica no Sudoeste do estado: Altamira, Itaituba e Pacajá, segundo, quarto e oitavo colocados, respectivamente. Completam a lista o líder São Félix do Xingu, no Sudeste, e o nono colocado Portel, no Marajó. Ainda integram a lista Apuí e Lábrea, ambos municípios do Sul do Amazonas, onde há uma expansão da área agropecuária.

Além disso, também ficam no Pará metade das 10 terras indígenas sob maior risco de desmatamento. São elas a líder do ranking Kayapó, a segunda colocada Apyterewa, a sexta Munduruku, a oitava Cachoeira Seca e a nona Trincheira/Bacajá. O Amazonas aparece como o segundo estado com maior número de territórios dos povos originários ameaçados, com o quarto colocado Alto Rio Negro, o quinto Yanomami (cuja área também fica em Roraima) e o décimo Vale do Javari. Esse último onde o indigenista brasileiro Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips foram assassinados em 2022. O Parque do Xingu, em Mato Grosso, ficou com a terceira colocação.

Leia a reportagem completa no Imazon.

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