Médicos alertam sobre doenças na estiagem e dão dicas de prevenção
A severa vazante dos rios do Amazonas já afeta todos os 62 municípios do estado, levando o Governo do Amazonas a decretar situação de emergência. Além das dificuldades de logística e deslocamento, a estiagem está impactando diretamente a saúde da população, com o aumento de doenças causadas pela falta de acesso a água potável e alimentos.
A professora Anelys Siqueira, médica de família e comunidade da Afya Faculdade de Ciências Médicas de Manacapuru, observa que o cenário no rio Miriti, que corta a cidade, tem mudado drasticamente nas últimas semanas devido à queda no nível das águas, o que deve se intensificar nas próximas semanas. “Sabemos a importância dos rios para o estado, tanto na questão do deslocamento quanto para a subsistência das populações. A estiagem afeta a agricultura, pecuária, pesca e piscicultura, o que leva à dificuldade no acesso a água potável e alimentos, aumentando o risco de doenças”, destaca.
Entre as enfermidades mais comuns nesse período estão diarreias, conjuntivite e problemas de pele. De acordo com Anelys, o armazenamento inadequado de água potencializa o risco de contaminação por larvas de mosquitos, podendo provocar surtos de Dengue, Chikungunya, Zika, Febre do Oropouche, Leishmaniose e Malária. Além disso, as deficiências nutricionais causadas pela dificuldade de manter uma alimentação saudável também são uma preocupação crescente.
Outro fator agravante são os incêndios, que ocorrem com mais frequência durante a seca, prejudicando a qualidade do ar e levando ao aumento de problemas respiratórios, principalmente em pessoas com doenças crônicas. “A baixa qualidade do ar, associada ao aumento de incêndios, é um risco grave para a saúde respiratória. Esses fatores também podem agravar doenças pré-existentes”, alerta a professora.
Além dos impactos físicos, Anelys Siqueira ressalta as consequências da estiagem no equilíbrio emocional. A incerteza econômica gerada pela perda da subsistência em atividades como a agropecuária e pesca tem levado ao aumento de transtornos psicológicos, como ansiedade, estresse, alcoolismo e até casos de suicídio. “Milhares de famílias dependem financeiramente dos rios para movimentar seus negócios. A incerteza do futuro pode ter consequências para a saúde mental dessas populações”, frisa a médica.
Sinais de alerta – Segundo Anelys Siqueira, é fundamental que a população fique atenta aos sintomas de doenças diarreicas, como o aumento da frequência de evacuações, presença de fezes líquidas ou pastosas, náuseas e vômitos. Casos mais graves podem incluir febre, presença de sangue nas fezes e dificuldade para se hidratar. Sintomas respiratórios, como tosse intensa e falta de ar, especialmente em pessoas com condições pré-existentes, também devem ser avaliados em uma unidade de saúde.
As doenças causadas por mosquitos, como Dengue, Zika e Chikungunya, em geral se manifestam inicialmente com febre, dor no corpo, cansaço e diminuição do apetite. “É importante que esses sinais não sejam ignorados, pois essas doenças podem evoluir rapidamente para quadros graves. No caso de suspeita de Dengue, é proibido tomar aspirina ou anti-inflamatórios, como Ibuprofeno, Cetoprofeno, Diclofenaco, Nimesulida, entre outros”, alerta a médica.
Prevenção caseira – Para minimizar os riscos, David Firmeza da Costa, médico de família e professor da Afya Faculdade de Ciências Médicas de Itacoatiara, sugere algumas medidas preventivas que podem ser realizadas em casa. Filtrar a água com um pano limpo ou coador de papel e depois fervê-la por pelo menos três minutos é uma forma eficiente de evitar doenças. Se não for possível ferver, deve-se tratar a água com hipoclorito de sódio 2,5% após a filtragem, usando duas gotas para cada litro de água. O hipoclorito geralmente é fornecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), através das Unidades Básicas de Saúde
Os recipientes usados para armazenar água também precisam ser higienizados com hipoclorito de sódio, na proporção de duas colheres de sopa para cada litro de água, com a solução agindo por 15 minutos antes de enxaguar. “Qualquer água destinada ao preparo de alimentos deve passar por esse tratamento. Frutas, verduras e legumes devem ser higienizados primeiramente na água corrente e depois devem ficar de molho na água com hipoclorito de sódio ou água sanitária por dez minutos, sendo enxaguados depois novamente.
David Firmeza, que atua em comunidades da região de Itacoatiara, enfatiza a importância da higiene pessoal, como tomar banhos regulares com sabonete para prevenir problemas de pele. Ele também destaca a necessidade de tentar manter uma alimentação equilibrada e reforça os desafios que a população enfrenta para ter acesso aos cuidados básicos de saúde. “Estou diretamente nas comunidades e já percebo o impacto da estiagem. O deslocamento das pessoas está se tornando cada vez mais difícil, o que torna ainda mais crucial manter os cuidados preventivos básicos”, conclui.
Com informações da assessoria