Manaus foi a capital do país que mais registrou crescimento de favelas
Nos últimos 37 anos, as áreas urbanizadas no país passaram de 1,2 milhão de hectares para 3,7 milhões. Nesse período, as áreas informais totalizaram 106 mil hectares – uma expansão de aproximadamente três vezes a área da cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais. Esses dados são do mais recente levantamento do MapBiomas sobre áreas urbanizadas, feito a partir da análise de imagens de satélite captadas entre 1985 e 2021.
Manaus, a capital do Amazonas possui o maior crescimento na série histórica, totalizando cerca de 10 mil campos de futebol em 2021. São Paulo (5.579 ha), Belém (5.450 ha), Rio de Janeiro (5.038 ha) e Salvador (4.793 ha) vêm na sequência. Todas registram crescimento semelhante em área informal, mesmo que possuindo características territoriais próprias.
A Amazônia lidera o percentual de crescimento das ocupações informais do território: 29,3% do crescimento urbano nesse bioma foi em áreas informais. A região norte possui 13 das 20 cidades com maior proporção de crescimento, com Belém entre as cinco primeiras da lista.
“O crescimento das favelas tem um comportamento parecido com o das áreas urbanizadas, mas na década de 90 as áreas informais aceleraram o avanço. A expansão da urbanização tem impactos no consumo dos recursos naturais, na qualidade de vida e, de uma maneira geral, na sustentabilidade urbana, mas quando falamos das favelas, além disso, há uma chance muito grande do aumento de ocupação de áreas de risco por populações mais vulneráveis”, explica Julio Cesar Predrassoli, um dos coordenadores do mapeamento de Áreas Urbanizadas do MapBiomas.
As imagens de satélite permitiram identificar que a ocupação urbana como um todo em áreas de risco aumentou 3 vezes entre 1985 e 2021, e em áreas informais esse avanço foi ainda maior: 3,4 vezes. De cada 100 hectares de favela, 15 foram construídos em áreas de risco.
Das 887 cidades com alguma área urbanizada em áreas de risco, apenas 20 cidades respondem por 36% de toda a área de risco ocupada nos últimos 37 anos. Salvador (BA), Ribeirão das Neves (MG), Jaboatão dos Guararapes (PE), São Paulo (SP), Recife (PE) e Belo Horizonte (MG) são as seis primeiras da lista.
O Cerrado lidera o ranking dos biomas com o maior aumento das áreas urbanizadas em risco com 382%, seguido da Caatinga com 310%, Amazônia com 303%, Mata Atlântica com 297%, Pampa com 193% e por último o Pantanal com 187%. Como o ranking é feito por área e Petrópolis tem uma extensão urbana pequena, a cidade não está no topo da lista, mas é um dos exemplos mais emblemáticos das consequências da ocupação de áreas de risco que vem ocorrendo na região desde o século XIX.
O Cerrado foi também o bioma que mais perdeu vegetação nativa para a expansão urbana. Dos mais de 558 mil hectares de formações naturais que foram convertidos para áreas urbanizadas entre 1985 e 2021, 28% (156,5 mil hectares) estavam no Cerrado. Em segundo lugar vem a Mata Atlântica (13008 mil ha), seguido pela Amazônia (123 mil ha), Caatinga (108 mil ha), Pampa (40 mil ha) e Pantanal (778 ha).
O levantamento ainda mostrou que a maior expansão das áreas urbanizadas ocorreu sobre áreas de uso agropecuário. Entre 1985 e 2021, os 2,5 milhões de hectares que foram urbanizados eram 67,8% de uso agropecuário: 30,7% eram áreas de pastagens, 30,5% mosaicos de uso e de agricultura eram 6,4%.
“Apesar da agropecuária ter quase 70% de crescimento nas áreas urbanas, é o avanço sobre a vegetação nativa que nos chama atenção. Proporcionalmente, alguns estados perderam mais da metade da sua cobertura natural para as áreas urbanizadas, afetando os ecossistemas naturais em que se inserem as cidades e contribuindo para uma resposta menos eficiente aos desafios climáticos”, aponta Mayumi Hirye, coordenadora do mapeamento de Áreas Urbanizadas do MapBiomas.
A perda total das formações naturais para áreas urbanas foi de 22,2% em 37 anos. No Piauí, 68,4% (29.029 ha) da urbanização ocorreu sobre cobertura natural, as formações florestais e savânicas somam 26.421 hectares perdidos. No Amazonas, foram perdidos 59,9% (17.159 ha) da cobertura natural, como florestas e campos alagados. O Ceará perdeu 58,6% (53.845 ha), com destaque para formações savânicas. A perda no Mato Grosso foi de 51,2% (38.156 ha), as formações savânicas, campestres e florestais somam mais de 36 mil ha.
Os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, localizados na Mata Atlântica, têm as duas maiores áreas urbanizadas do país e juntos eles perderam quase 38 mil hectares de vegetação nativa: foram perdidos, respectivamente, 26.655 ha e 10.982 ha.
O Pantanal e Pampa são os biomas com a maior proporção de vegetação nativa em áreas urbanas tanto de alta como de baixa densidade. Já na Amazônia observou-se a maior perda de vegetação nativa, em ambas as áreas de densidade. “As áreas de baixa densidade compreendem as áreas de expansão das cidades, onde os serviços ecossistêmicos da vegetação poderiam ser incorporados em novos bairros, mais verdes e sustentáveis”, adverte Hirye. O destaque fica para a Mata Atlântica: são cerca de 730 mil ha de vegetação nativa em áreas urbanas de baixa densidade.
A Mata Atlântica, que concentra mais da metade das áreas urbanizadas (53%), também é líder no ranking da ocupação urbana de faixas marginais (30 m) de corpos hídricos por bioma. Em 2021, o bioma correspondeu a 67% de toda a ocupação urbana que pressiona as margens dos corpos hídricos. Além disso, 280 mil hectares da Mata Atlântica são de áreas urbanizadas de baixa densidade.