Obras de Thiago de Mello e de Lúcio Cost estarão no casarão da prefeitura
O poeta Carlos Drummond de Andrade foi o amigo que apresentou o arquiteto que fez o plano de Brasília, Lúcio Costa, ao escritor, também poeta e amazônida Thiago de Mello, em 1951, no Rio de Janeiro (RJ). E 71 anos depois, as obras dos dois expoentes e amigos, Lúcio e Thiago, vão compor o acervo de um dos projetos da Prefeitura de Manaus, incluído no programa “Nosso Centro”.
Dentro da exposição permanente com a obra, vida e história de Thiago de Mello, que vai ocupar o casarão amarelo, na rua Bernardo Ramos, estará o trabalho do arquiteto renomado brasileiro, nascido na França e formado no Rio de Janeiro, e que produziu algumas das mais importantes referências arquitetônicas modernas, do desenho do edifício ao desenvolvimento de planos urbanos, como é o caso da cidade de Brasília.
E as suas únicas obras desenhadas, projetadas e construídas na Amazônia são justamente as casas do poeta Thiago de Mello, na sua terra natal, Barreirinha (AM). O projeto do casarão em Manaus é de autoria do Instituto Municipal de Planejamento Urbano (Implurb), em parceria com o Instituto Thiago de Mello, tendo à frente a filha do escritor, a produtora Isabella Thiago de Mello. O local será o Casarão Thiago de Mello.
Foi no prédio construído por Lúcio Costa, em cima dos traços do Le Corbusier, no palácio Gustavo Capanema, a sede do Ministério da Educação e Cultura do Rio de Janeiro, que o arquiteto e o escritor se conheceram.
As casas que Lúcio Costa fez para o poeta no interior da floresta são bens materiais edificados que fazem parte da ocupação do território amazônico. E ambos são filhos de amazonenses.
Planejador, preservacionista e pensador moderno, Lúcio Costa desenhou a nova cidade do planalto central, o plano de Brasília em 1957, fazendo da capital nacional um monumento do modernismo.
O mesmo modernismo que se viu ter um casamento simbiótico com a floresta, quando projetou as casas para Thiago, dando a obra de presente ao amigo, na volta do poeta do exílio. Foi ao retornar ao Brasil, na década de 70, que o amazonense recebeu do arquiteto o projeto das casas para construir em Barreirinha, onde nasceu.
“A exposição terá a memória das casas de Barreirinha. Esse casarão vai guardar suas obras, uma história bonita de se preservar como patrimônio entre dois amigos. Quem for ao casarão, após sua reforma e restauro, vai conhecer a biografia e a amizade entre Lúcio e Thiago, uma história viva. São dois nomes notáveis na arquitetura e literatura, respectivamente, da história de nós, amazônidas, de nós, brasileiros”, disse a filha Isabella.
Todas as casas, batizadas “Torreão”, “Porantim”, “Casa da Frente do Rio Paraná do Ramos” e “Casa de Praia do rio Andirá”, estão em processo de tombamento no Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). As imagens delas e até reproduções em maquetes poderão ser conhecidas em Manaus, no casarão, no Centro.
Estética
Para o diretor de Planejamento do Implurb, arquiteto e urbanista Pedro Paulo Cordeiro, o casarão trará à memória os exemplares únicos das obras de Lúcio Costa projetadas na Amazônia, além de reunir trabalhos de dois ícones nacionais. “É interessante notar a relação de Lúcio com a cidade de Manaus, desde a avó, dona Libânia, primeira professora pública de Manaus, e os projetos que remetem sua ligação com a região. Ao analisar as casas de Barreirinha se percebe que são exemplares únicos, porque foram implantadas e se transformaram na arquitetura do lugar. São totalmente ambientadas, integradas à paisagem e projetadas em um tempo onde não havia a facilidade da tecnologia de hoje”, destacou o diretor.
Há mais de meio século, sem recursos modernos, a modernidade do desenho de Lúcio Costa mostrava biofilia e sustentabilidade, com croquis feitos à mão. “Aqui vamos contar essa relação do poeta com o arquiteto, com a possibilidade de mostrar, às futuras gerações, que existe, sim, preservação com casas projetadas por Lúcio Costa, o maior pensador da arquitetura moderna brasileira. Como com Le Corbusier, a casa do rio Andirá tem os pilotis, os vãos abertos, a ambientação com a floresta. Existe muita curiosidade e atenção sobre a Amazônia, mas poucos têm a sensibilidade de desenvolver projetos tão bem casados à região como fez Lúcio”.
Lúcio Costa
Nascido em 1902 e morto em 1998, esteve à frente de importantes projetos, mais notavelmente o plano piloto de Brasília e o Ministério da Educação e Saúde do Rio de Janeiro, com impactos marcantes na arquitetura e urbanismo do país. Nascido na França, por conta da profissão de seu pai almirante, formou-se no curso de Arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, e, aos 29 anos, foi convidado a ser o diretor da faculdade.
O arquiteto assinou outros muitos projetos importantes, tais como o plano de urbanização do bairro da Barra da Tijuca, o parque Eduardo Guinle, a torre de TV de Brasília, além de diversas residências particulares.
Com informações da assessoria