Retirada dos flutuantes do Tarumã-Açu já impacta negativamente faturamento de empreendedores
A decisão judicial para a retirada dos flutuantes do rio Tarumã-Açu já causa danos econômicos a quem depende do espaço de lazer e de moradia. A Cooperativa dos Profissionais de Transporte Fluvial da Marina do Davi (Acamdaf) estima perda aproximada de 50% no número de viagens nas lanchas com destino aos flutuantes da região.
De acordo com Flávio de Almeida, presidente da Acamdaf, desde que a decisão judicial foi noticiada, em junho deste ano, os mais de 30 piloteiros (condutores das lanchas) e os auxiliares sentiram o impacto no bolso, uma vez que o número de passageiros despencou se comparado aos últimos anos.
“Caiu muito o movimento em comparação aos últimos anos. Eu acho que o volume de gente transportada caiu mais de 50%. Nós somos mais de 30 piloteiros e mais os ajudantes de piloteiros, que são todos daqui da região da Marina do David e das comunidades como Fátima, Livramento, tudo dentro do Tarumã. São pessoas que moram por aqui, a renda circula aqui. Essas pessoas não têm outra atividade. Elas viveram a vida toda pilotando lancha”, comentou Flávio, reforçando que a maioria dos trabalhadores atua somente nesta profissão.
O presidente da Acamdaf destacou também que a formação desses profissionais está diretamente ligada a função aquática, não tendo outras habilidades para sobreviver. “Ele (piloteiro ou ajudante) já tem já um serviço. Essas pessoas já são qualificadas para as nossas lanchas. São lanchas de passageiro. Elas estudaram na Marinha para tirar uma carteira, para pilotar lancha de passageiro, ou marinheiro auxiliar fluvial. Então, precisa estudar, precisa fazer prova na Marinha. Não adianta só você retirar o serviço dele. Ele não tem outro tipo de serviço que ele possa fazer em terra. Ele está acostumado a trabalhar em água”, completou o presidente da Acamdaf.
Impactos
O presidente da Associação de Flutuantes do Tarumã-Açú (Afluta), Nildo Affonso, informou que a procura pelos flutuantes e empreendimentos no rio Tarumã-Açu caiu drasticamente. “Houve, sim, uma grande diminuição na procura por flutuante. Alguns clientes inclusive chegaram a afirmar que tinham medo de frequentar e serem surpreendidos com a retirada. Quanto ao faturamento, é quase unânime a reclamação da brusca redução”, disse Nildo.
Para ele, a retirada dos flutuantes gerará prejuízos imensuráveis, sobretudo pela falta de indenização como contrapartida para a saída dos espaços flutuantes. “Os prejuízos serão catastróficos, pois, além dos empreendedores do turismo perderem totalmente seu faturamento, em nenhum momento foi falado sobre indenizações. Só se fala em retirada e demolição sem nenhuma compensação financeira aos empresários. Ignoraram as atividades turísticas, os empregos gerados e a situação dos moradores ribeirinhos”, disse o presidente da Afluta.
Incerteza
Sara Guedes, presidente da Associação dos Moradores da Marina do Davi, disse que toma todos os cuidados ambientais necessários quanto a sua atividade no rio Tarumã-Açu. Lá, ela reside, cria os dois filhos e atua nos flutuantes que recebem clientes para lazer. “Todo lixo deve ser descartado corretamente. Plástico, lata, colher descartável, sacola, nada é jogado no rio. Tudo é descartado corretamente dentro de um saco de lixo e amarrado para depois ser descartado corretamente na nossa balsa de lixo fluvial que nós temos dentro da comunidade”, disse Sara, questionando sobre o próprio futuro diante da decisão judicial.
“Nós tínhamos uma segurança de ter o nosso trabalho, de fazer planos, criar nossos filhos, pagar nossas contas. Nós temos ali o nosso trabalho e a nossa casa. Tudo é em torno do Tarumã. Antes dessa ordem judiciária, nós tínhamos a segurança de que ali era a nossa casa, era o nosso o nosso lar. Com essa ordem, todos estão desesperados. A incerteza de não saber o dia de amanhã está nos matando. Psicologicamente todos estão abalados. Teve flutuantes que já saíram. Então, muita gente ficou sem trabalho. E, agora, tem que se virar trabalhando de outra forma”, completou Sara.
Emocionada, a presidente da Associação diz não saber onde irá morar ou atuar profissionalmente. “A alternativa econômica que a gente encontra é só trabalhar em lanchas, trabalhar como vigia de barco, se nós permanecermos, se as moradias permanecerem, mas se as moradias não permanecerem, a gente perdeu tudo, absolutamente tudo. Perdeu casa, trabalho, o futuro, a esperança de um futuro. Até o nosso psicológico está sendo afetado”, finalizou Sara.